ANTROPOLOGIA:
INTRODUÇÃO, CONCEITO, ASPECTOS, HUMANISMO E OBJETO DE ESTUDO
I
– Introdução
1) Do estudo de Sociedades Simples para o Estudo de Sociedades
Complexas
Sociedades Simples, Primitivas, Arcaicas ou Frias
“A antropologia, em um primeiro momento se
interessou por estudar sociedades simples, também denominadas sociedades
primitivas, sociedades arcaicas ou sociedades frias[...]”(Lévi;Strauss, apud
ASSIS; KÜMPEL, 2012).
Em nossa aula comentamos a respeito do Povo conhecido como Dogons que na década de 30 do Século passado chamou a atenção de dois antropólogos franceses, Marcel Griale e Germain Dieterlen, que decidiram pesquisar sua cultura e ficaram muito fascinados com seu conhecimento astronômico.
Marcel e Germain descobriram que segundo a mitologia dos Dogons, que remontava a 3.200 antos Antes de Cristo, eles já sabiam, nesta época, que o Planeta Terra girava em torno do Sol, que Júpiter tinha quatro luas e que Saturno era cercado por anéis. Mais que isso, os Dogons eram completamente fascinados pelo sistema da estrela Sírius, que fica há 8,6 anos-luz de distância da terra e possuem um calendário em que comemoram a cada 50 anos o ciclo de rotação entre a estrela Sírios e sua anã branca Sírius B que a ciência moderna confirmou mais tarde que dura 50,4 anos. (http://saibatananet.blogspot.com.br/2012/08/sirius-e-os-dogons-o-povo-das-estrelas.html#.WNELATvyvIV).
Este é um exemplo de estudo antropológico muito fascinante de uma cultura primitiva.
- Sociedades Civilizadas, Complexas, Modernas ou Quentes
“[...] no entanto, logo a antropologia sentiu a
necessidade de dirigir seus estudos também para as sociedades civilizadas,
sociedades complexas, também denominadas de sociedade modernas ou quentes,
demonstrando, dessa forma, forte existência de vínculos com o direito e as
demais ciências, havendo, neste sentido, muitos pontos de contatos entre o
Direito e a Antropologia, fato que acaba ressaltando o aspecto interdisciplinar
dessas duas áreas do conhecimento e justifica nos estudos o interesse dos
estudos de uma área pela outra (Lévi;Strauss, apud ASSIS; KÜMPEL, 2012).
Estocolmo - Suécia
Damasco - Síria
São Paulo - Brasil
2) Do conceito de antropologia:
Antropologia é a conjugação de duas
palavras gregas:
anthropos (homem) e
Antropologia
logos (estudo, razão, pensamento).
Antropologia é o estudo do homem. Como
ciência da humanidade, ela é responsável por conhecer cientificamente o ser
humano em sua totalidade. (MARCONI; PRESOTO, 2006).
Já os autores Hoebel e Frost definem
antropologia como: “[a ciência da humanidade e da cultura. Como tal, é uma
ciência superior social e comportamental, e mais, na sua relação com as artes e
no empenho antropólogo de sentir e comunicar o modo de viver total de povos
específicos, é também uma disciplina humanística" (MARCONI; PRESOTO, 2006,
p. 01.)
2.1
Aspectos da antropologia:
Como vimos, a antropologia é uma ciência
que busca conhecer o ser humano em sua totalidade e para alcançar esse fim ela se divide em três aspectos:
a) CIÊNCIA SOCIAL: propõe conhecer o homem enquanto elemento
integrante de grupos organizados.
Em nossa aula eu disse para pensarmos como
será que os antropólogos lá do exterior pensam a respeito do povo brasileiro já
que, quando da greve da Polícia Militar em Pernambuco, houve um caos total em
que as pessoas, sem generalizar, é claro, saíram saqueando supermercados, lojas
de departamentos e etc.
Por outro lado, como será que pensam também os antropólogos estrangeiros a respeito do Brasil já que aqui temos a Polícia Militar que mais mata no Planeta? Até mesmo a ONU - Organização das Nações Unidas recomendou o fim da Polícia Militar no Brasil, que seria uma nova polícia em carreira civil, com novo treinamento e não mais carreira militar.
Comentamos também, por outro lado, como nos
causa espanto, por exemplo, os exemplos de honestidade do povo Holandês. Nas
estações de trem existem os locais para você adquirir o seu cartão de embarque
e não existe alguém para vigiar se você vai ou não pagar e todo mundo paga para
embarcar como deve ser em uma sociedade civilizada e honesta. Este é um local para aquisição do cartão em Amsterdam.
São exemplos de como vivem dois diferentes grupos
em sociedade.
b) CIÊNCIA HUMANA: volta-se especificamente para o homem como um
todo, sua história, suas crenças, usos e costumes, filosofia, linguagem, etc.
Comentamos em sala de aula a respeito do
Povo Dogon do Mali na África como já citamos como exemplo de estudo de cultura primitiva acima. Mas podemos citar o exemplo de crenças religiosas de tribos indígenas como a dos Kaiowas que acreditam em suas crenças que filhos de mães solteiras, gêmeos ou crianças que nasçam com algum tipo de deficiência física ou mental não devem viver, em alguns casos para não sobrecarregar toda tribo, mas, principalmente em nome da tradição e da cultura indígena:
No final do documentário é exibido um indígena adulto já, que em seu testemunho, sabiamente, a meu ver, diz que culturalmente falando deve-se preservar os costumes, a dança, a música, a língua, as tradições, no entanto, deve haver um limite nestes costumes, principalmente quando envolve temas como este do infanticídio. Existem tribos também que possuem a tradição do casamento de crianças com adultos o que é uma indicação de pesquisa para vocês.
Falamos também sobre o direito ou não de “Poder
morrer” o que também envolve o estudo da antropologia humana na área da ciência
humana. Dissemos que em alguns países já está legalizado o Direito a Morrer nos casos em que a pessoa possui uma doença terminal sem possibilidade de cura e de conforto na sua sobrevida, o que ainda não existe previsão no Brasil. Para contextualizar nossas discussões, utilizamos o vídeo intitulado O
Solitário Anônimo produzido por Débora Diniz. Ressalvamos que no caso do Solitário Anônimo, mesmo sendo uma pessoa muito culta, formada em advocacia, que acreditava ter o Direito de Morrer, esse direito, da forma como ele alegava, sem uma doença terminal, ainda não existe previsão em qualquer lugar do Planeta, o Direito à Vida é resguardado pela lei universalmente. Segue o documentário de Débora Diniz:
C) CIÊNCIA NATURAL: interessa-se pelo conhecimento psicossomático do
homem e sua evolução, seu patrimônio genético, sua anatomia, sua fisiologia.
Podemos dar como exemplo aqui, que, com a evolução da ciência, a humanidade tomou consciência de que não existiu um "Adão e uma Eva" e sim que houve uma evolução biológica da qual surgiu o homem e este estudo também interessa muito para a antropologia até os dias de hoje:
3.
Antropologia e humanismo
Como já vimos, no sentido etimológico,
antropologia significa o estudo do homem, de modo que para Abbgnamo, antropologia
é a exposição sistemática dos conhecimentos que se têm a respeito do homem,
visando portanto, fundar ou constituir um saber científico que toma o homem
como o objeto do estudo (ASSIS; KÜMPEL, 2012).
No entanto, Lévi-Strauss defende que a
antropologia pode ser considerada a base fundante do humanismo democrático que
clama pela reconciliação do homem com a natureza na medida em que a
antropologia procede de certa concepção do mundo ou da maneira original de
colocar os problemas, uma e outra descoberta por ocasião do estudo de fenômenos
sociais que tornam manifestas certas propriedades gerais da vida social.
(ASSIS; KÜMPEL, 2012).
O homem se reconciliando com a natureza deve ser pensado de forma muito ampla, como por exemplo a noção do homem da importância da influência da natureza na própria evolução humana e mais recentemente a noção adquirida pelo homem da importância da preservação da natureza para preservação da vida no Planeta Terra e da própria espécie humana.
A primeira grande conferência mundial sobre meio ambiente ocorreu em Estocolmo em 1972:
O homem já tem consciência de que o Planeta sobrevive sem o homem, mas o homem não sobreviverá com possíveis mudanças que poderá causar no Planeta. Curiosamente é o único ser vivo que tem consciência disso mas que não consegue reunir os recursos e força necessários para mudar esse futuro:
- Das etapas do Humanismo:
1.1.1. Etapas do humanismo Em estudo
intitulado Os três humanismos, LéviStrauss (1993: 277 a 280) constata que, para
a maioria das pessoas, a antropologia aparece como uma ciência nova, um
refinamento e uma curiosidade do homem moderno pelos objetos, costumes e
crenças dos povos ditos selvagens. Observa, porém, que a antropologia não é nem
uma ciência à parte, nem uma ciência nova; é a forma mais antiga e geral do que
se costuma designar por humanismo. O humanismo, segundo o autor, pode ser
decomposto em três etapas:
a) a da Renascença: O humanismo da Renascença redescobre a antiguidade greco-romana e faz do grego e do latim a base da formação intelectual. Nesse sentido, esboça uma primeira forma de antropologia, na medida em que reconhece que nenhuma civilização pode pensar a si mesma, se não dispuser de algumas outras que lhe sirvam de comparação. A Renascença reencontra, na literatura antiga, noções e métodos esquecidos; porém, mais especialmente, encontra o meio de colocar sua própria cultura em perspectiva, confrontando as concepções renascentistas com as de outras épocas e lugares. Através da língua (grego e latim) e dos textos clássicos, os homens da Renascença encontraram um método intelectual que pode ser denominado técnica do estranhamento.
b) a dos séculos XVIII e XIX: o humanismo dos séculos XVIII e XIX atua numa extensão mais ampla. O progresso da exploração geográfica colocou o homem europeu em contato com o acervo cultural das civilizações mais longínquas, como China, Índia e América. Trata-se de um humanismo ligado aos interesses industriais e comerciais que lhe serviam de apoio, motivo pelo qual, mesmo diante da multiplicidade cultural, carrega valores ligados ao etnocentrismo, na medida em que estabelece a identificação do sujeito com ele mesmo, e da cultura com a cultura europeia.
Aqui nos deparamos fortemente com o ETNOCENTRISMO, com a noção de que minha cultura é superior, melhor, mais avançada que a outra cultura.
c) a atual: o humanismo atual, por intermédio da antropologia, percorre
sua terceira etapa ao focar as sociedades primitivas, as últimas civilizações
ainda desdenhadas. Para Lévi-Strauss, esta será, sem dúvida, a última etapa,
porque, após ela, o homem nada mais terá para descobrir sobre si mesmo, ao
menos em termos de extensão. Os dois primeiros humanismos, segundo ele, estavam
limitados em superfície e qualidade, especificamente porque: a) as civilizações
antigas tinham desaparecido e só poderiam ser conhecidas pelos textos ou
monumentos; b) as civilizações longínquas (Oriente e Extremo Oriente), ainda
que possuíssem textos e monumentos, só mereciam interesse por suas produções
mais eruditas e refinadas; c) as sociedades primitivas não despertavam
interesse porque não possuíam documentos escritos e a maioria delas nem sequer
possuía monumentos figurados.Para superar essas
limitações e preconceitos, a antropologia depara-se com a necessidade de dotar
o humanismo de novos instrumentos de investigação. A antropologia,
conforme Lévi-Strauss, ultrapassa o humanismo tradicional em todos os sentidos,
visto que seu terreno engloba a totalidade da terra habitada, enquanto seu
método reúne procedimentos que provêm tanto das ciências humanas e sociais como
das ciências naturais, portanto, de todas as formas do saber.
- ESTÁGIO ATUAL DA ANTROPOLOGIA:
No seu estágio atual, a antropologia fez progredir o conhecimento em três direções, ou novas etapas, sendo elas: I) Direção ou Etapa de Superfície; II) Direção ou Etepa de Riqueza de Ditalhes e III) Direção o Etapa de Ampliação dos Beneficiários.
I) DIREÇÃO OU ETAPA DE SUPERFÍCIE em superfície, porque se interessa por todas as sociedades, sejam simples ou complexas.
- ESTÁGIO ATUAL DA ANTROPOLOGIA:
No seu estágio atual, a antropologia fez progredir o conhecimento em três direções, ou novas etapas, sendo elas: I) Direção ou Etapa de Superfície; II) Direção ou Etepa de Riqueza de Ditalhes e III) Direção o Etapa de Ampliação dos Beneficiários.
I) DIREÇÃO OU ETAPA DE SUPERFÍCIE em superfície, porque se interessa por todas as sociedades, sejam simples ou complexas.
Para
chegar ao estágio atual da Antropologia de Superfície, houve necessidade de se
romper com enormes preconceitos com relações ao que foi classificado como
primeiras etapas do humanismo. Neste sentido:
a) em
um primeiro momento, a antropologia não se despertou interesse por civilizações
antigas que tinham desaparecidos, havendo interesse apenas por aquelas que
haviam deixado textos ou monumentos, ou seja, para a antropologia, se não houvesse
texto ou monumento, não havia interesse de estudo;
b)
também com relação as civilizações longínquas (Oriente e Extremo Oriente),
ainda que possuíssem textos e monumentos, só houve interesse da
antropologia as produções relacionadas
aos textos e monumentos que se revelassem mais eruditas ou refinadas, não
despertando interesse de estudo os demais relatos, ainda que, sabemos hoje, que
costumes milenares vigoram nessas civilizações até hoje, como por exemplo o
caso citado em sala de aula de um Líder Tribal de uma Vila conceder refúgio a
soldados estrangeiros e os Talibãs mesmo em maior número respeitar referido refúgio
e deixarem o combate. Isso demonstra o quanto se perdeu de conhecimento pelo
preconceito em se estudar mais profundamente essas sociedades;
c) Por fim, em um primeiro momento, as sociedades
primitivas não despertavam interesse porque não possuíam documentos escritos e
a maioria delas nem sequer possuía monumentos figurados.
Para
superar o preconceito dos exemplos citados acima, a Antropologia precisou
reconhecer a necessidade de mudar sua forma de ver as mais diversas sociedades
humanas em sua natural complexidade e adotar
novas formas de investigação, o que vai, por exemplo, ser fundamental para
atingirmos uma das mais importantes direções ou novas etapas do atual estágio da
Antropologia se organizando em três direções e a principal direção é
classificada como ANTROPOLOGIA NA DIREÇÃO DA SUPERFÍCIE, ou seja, ampliação da
superfície de estudos.
II) DIREÇÃO OU ETAPA DE RIQUEZA DE MEIOS DE INVESTIGAÇÃO, porque, em função das
características particulares das sociedades primitivas, introduziu novos modos
de conhecimento que podem ser aplicados ao estudo de todas as outras
sociedades, inclusive as sociedades contemporâneas mais complexas, como é o
caso da sociedade europeia e da norte-americana;
III)DIREÇÃO OU ETAPA DE AMPLIAÇÃO DOS BENEFICIÁRIOS, porque, ao contrário do humanismo clássico restrito aos
beneficiários da classe privilegiada, alcança as populações das sociedades mais
humildes.
- ANTROPOLOGIA DUPLAMENTE UNIVERSAL
A antropologia marca, portanto, o advento de um humanismo duplamente universal:
A antropologia marca, portanto, o advento de um humanismo duplamente universal:
a) primeiro: procurando sua inspiração no cerne das sociedades mais
humildes e desprezadas, proclama que nada de humano poderia ser estranho ao
homem, e funda assim um humanismo democrático que se opõe aos que o precederam,
criados para privilegiados, a partir de civilizações privilegiadas;
b) segundo:
mobilizando métodos e técnicas tomados de empréstimo a todas as ciências, para
fazê-los servir ao conhecimento do homem, a antropologia clama pela
reconciliação do homem e da natureza, num humanismo generalizado. Há, portanto,
na base dessa nova antropologia a afirmação do princípio de alteridade e a
negação do etnocentrismo.
Afirmar a alteridade significa fazer um apelo ao homem para
reconhecer-se no outro, especificamente para reconhecer-se nas carências do
outro e enxergar seus privilégios como expressão direta das privações do outro.
Negar o
etnocentrismo significa posicionar-se contra a atitude que consiste em
supervalorizar a própria cultura e considerar as demais como inferiores,
selvagens, bárbaras e atrasadas.
O nacionalismo exacerbado é uma via para
o etnocentrismo principalmente quando se manifesta por meio de comportamento
agressivo, de atitudes de superioridade e de hostilidade. A discriminação, o
proselitismo, a violência, a agressividade são formas de expressar o
etnocentrismo e negar a alteridade. A ausência de alteridade e a presença do
etnocentrismo explicam por que algumas práticas dos índios da costa brasileira,
como a antropofagia e a nudez, foram condenadas e consideradas selvagens pelos
europeus. Isso certamente ocorreu porque a avaliação dos padrões
culturais dos índios não foi feita em relação ao contexto cultural dos próprios
índios, mas de acordo com os valores éticos e morais predominantes na cultura
europeia.
(Antropofagia no Brasil em 1557, segundo a
descrição de Hans Staden)
A Origem do Homem Americano e os Estudos de Niéde Guidon:
- OBJETO DE ESTUDO DA ANTROPOLOGIA
Como foi possível observar até o momento o
objeto de estudo da antropologia é o homem e suas obras.
Para os antropólogos BEALS e HOIJER (1968) o objeto de estudo vai centrar
seus esforços em estudar o homem como membro do reino animal e, também, no
comportamento do homem como membro da vida em sociedade. Desta forma, o objeto da antropologia
abarca as formas físicas primitivas e atuais do homem e suas manifestações
culturais, interessando-se principalmente pelos grupos simples, culturalmente
diferenciados, e também pelo conhecimento de todas as sociedades humanas,
letradas ou agrárias, extintas ou vivas, existente nas várias regiões da Terra.
O antropólogo
assume a importante tarefa de proceder a generalizações, formulando princípios
que tem a função de explicar a formação e desenvolvimento das sociedades e
culturas humanas.
Exemplo de Sociedade Humana Extinta do Brasil: vestígios encontrados no
Parque nacional da Serra da Capivara (Representa a maior concentração de
Pinturas Rupestres do Mundo datas em carbono de 59.000 anos a 5.000 anos):
A Origem do Homem Americano e os Estudos de Niéde Guidon: