I)
PENSAMENTO, EXISTÊNCIA E DOMINAÇÃO
“É questionável se o Homo sapiens ainda existirá a mil anos, de modo
que 2 milhões de anos certamente está fora de nosso alcance” (HARARI, 2017,
p.14)
-
O POSSÍVEL GENOCÍDIO DAS DEMAIS ESPÉCIES HUMANAS
“[...] A verdade é
que, de aproximadamente 2 milhões de anos a 10 mil anos atrás, o mundo foi
habitado por várias espécies humanas ao mesmo tempo [...] Hoje há muitas
espécies de raposas, ursos e porcos. O mundo de 100
mil anos atrás foi habitado por pelo menos seis espécies humanas diferentes. É nossa exclusividade atual, e não a multiplicidade
de espécies em nosso passado, que é peculiar – e, talvez, incriminadora. [...]”
(HARARI, 2017, p. 16)
OBS. Existem várias
teorias, uma delas é que nós, Homo sapiens, cometemos genocídio contra as
demais espécies, em especial, os Homo neandertal.
-
O ESPETACULAR SALTO NA PIRÂMIDE DA CADEIA ALIMENTAR
“[...] Durante milhões de
anos, os humanos caçaram criaturas menores e coletaram o que podiam, ao passo
que eram caçados por predadores maiores. Somente há 400 mil anos que várias
espécies de “homem”, começaram a caçar
animais grandes de maneira regular, e só nos últimos 100 mil anos – com a ascensão do Homo
sapiens – esse Homem saltou para o topo da cadeia alimentar.
Esse salto espetacular do meio para o topo teve enormes
consequências, outros animais no topo da pirâmide, como os leões e os
tubarões, evoluíram para essa posição gradualmente, ao longo de milhões de anos.
Isso permitiu
que o ecossistema desenvolvesse formas de compensação e equilíbrio que impediam que leões e tubarões causassem
destruição em excesso. [...] Diferentemente, a humanidade ascendeu ao topo tão rapidamente
que o ecossistema não teve tempo de se ajustar. Além disso, os
próprios humanos não conseguiram se ajustar. A maior parte dos grandes
predadores do planeta são criaturas grandiosas. Milhões de anos de supremacia
os encheram de confiança em si mesmo. Os sapiens, diferentemente, está mais para um ditador de
uma república de bananas. Tendo sido até pouco tempo atrás um dos oprimidos das
savanas, somos tomados por medos e ansiedade quanto à nossa posição, o que nos
torna duplamente cruéis e perigosos. Muitas calamidades históricas, de guerras
mortais a catástrofes ecológicas, resultaram deste salto apressado”.
(HARARI, 2017, p.19/20).
-
REVOLUÇÃO COGNITIVA – Mutações da árvore do conhecimento – surgimento de novas
formas de comunicação
“O surgimento de novas formas de pensar e se comunicar, entre 70 mil
anos atrás a 30 mil anos atrás, constitui a Revolução Cognitiva.
O que a causou? Não sabemos ao certo. A teoria mais aceita afirma que mutações
genéticas acidentais mudaram as conexões internas do cérebro dos sapiens,
possibilitando que pensassem de uma maneira sem precedentes e se comunicassem
usando um tipo de linguagem totalmente novo. Poderíamos chamá-la de mutações da
árvore do conhecimento. Por que ocorreram no DNA dos sapiens e não no DNA dos
neandertais? Até onde pudemos verificar, foi uma questão de puro acaso [...]
(HARARI, 2017, p. 30).
“[...] Um papagaio pode dizer qualquer coisa
proferida por Albert Einstein, além de imitar o som de telefones chamando,
portas batendo e sirenes tocando. O que, então, há de tão especial em nossa
linguagem?
A resposta mais comum é que nossa linguagem é incrivelmente
versátil. Podemos conectar uma série ilimitadas de sons e sinais para produzir
um número infinito de frases, cada uma delas com um significado diferente.
Podemos, assim consumir, armazenar e comunicar uma quantidade extraordinária de
informação sobre o mundo à nossa volta. [...]” (HARARI, 2017,
p.31)
- TEORIA DA FOFOCA
“[...] As novas
habilidades linguísticas que os sapiens modernos adquiriram há certa de 70
milênios permitiram que fofocassem por horas a fio. Graças a informações precisas sobre quem era digno
de confiança, pequenos grupos puderam se expandir para bandos maiores, os
sapiens puderam desenvolver tipos de cooperação mais sólidos e mais
sofisticados.
A teoria da fofoca pode
parecer uma piada, mas vários estudiosos a corroboram. Ainda hoje, a maior parte da comunicação humana
– seja na forma de e-mails, telefonemas ou colunas de jornais – é fofoca.
É tão natural para nós que é como se nossa linguagem tivesse evoluído
exatamente com esse propósito. Você acha que quando almoçam juntos professores
de história conversam sobre as causas da Primeira Guerra Mundial, ou que
físicos nucleares passam o intervalo do café em conferências científicas
falando sobre partículas subatômicas? Às vezes. Mas com muito mais frequência eles fofocam sobre a professora que flagrou o
marido com outra, ou sobre a briga entre o chefe do departamento e o reitor, ou
sobre os rumores de que um colega usou sua verba de pesquisa para comprar um
Lexus. A
fofoca normalmente gira em torno de comportamentos inadequados. Os que fomentam
os rumores são o quarto poder original, os jornalistas que informam a sociedade
sobre trapaceiros e aproveitadores e, desse modo, a protegem.
[...]
Lendas, mitos, deuses e religiões apareceram pela primeira vez com a
Revolução Cognitiva. Antes
disso, muitas espécies animais e humanas foram capazes de dizer: “Cuidado! Um
leão!. Graças à Revolução Cognitiva, o Homo sapiens adquiriu a capacidade de
dizer: “O leão é o espírito guardião da nossa tribo”. Essa capacidade de falar
sobre ficções é a característica mais singular da linguagem dos
sapiens”.(HARARI, 2017, p.31/32)
-
IMPORTÂNCIA DA FICÇÃO PARA OS SAPIENS
“[...]
Mas a ficção nos permitiu não só imaginar coisas como também fazer
isso coletivamente. Podemos tecer mitos partilhados, tais como a história da
bíblia da criação, os mitos do Tempo do Sonho dos aborígenes australianos e os
mitos nacionalistas dos Estados modernos. Tais mitos dão aos sapiens a capacidade
sem precedentes de cooperar de modo versátil em grande número.
[...] Os sapiens podem cooperar de maneiras extremamente flexíveis com um
número incontável de estranhos. É por isso que os sapiens governam o mundo, ao
passo que as formigas comem nossos restos e os chimpanzés estão trancados em
zoológicos e laboratórios de pesquisa.
- DO PENSAMENTO
O pensamento, o
questionamento da existência, começa quando em algum momento os homens
“esqueceram” do trabalho como fundador da sua humanização e passaram a conceber
e interpretar o mundo a partir da razão (idealismo). Esqueceram-se do esforço real que pelo
trabalho lhes desenvolveu a mão livre, o aparelho vocal, o próprio cérebro e
passaram a privilegiar o pensamento sobre a vida real. (ROCHA,
2015, p.74/75)
- PENSAR – AGIR – DOMINAR
A humanidade deveria ter
compreendido que as manifestações de nosso cérebro com relação ao Pensar e ao
Agir fazem parte de uma enorme potencialidade que os cientistas ainda estão por
descobrir e que essas duas ações devem ser compreendidas como uma dualidade única.
Mas a humanidade não compreendeu desta forma, como uma DUALIDADE de PENSAR + AGIR mais do que trabalhar e produzir, a si mesmo e ao seu
pensamento, a
devida unicidade se cristalizou entre as sociedades diferenciadas modernas como
a preponderância do pensar sobre o agir.
(ROCHA, 2015)
- IMPORTANTE
CONSEQUÊNCIA: devemos destacar como
importante consequência desta preponderância do Pensar sobre o Agir, que logo houve o
desencadeamento da preponderância do Conceber, ter Ideias, sobre o executar,
quem iria trabalhar nas ideias. E por fim, chegamos no Poder dos que Pensam, e
mais tarde, na revolução industrial, poder “dos que possuem o capital” para investir, sobre “Os que fazem as coisas imaginadas
pelos que pensam”, ou Os
que fazem o que determina os que tem o capital”. Surge a Dominação dos que pensam sobre os que executam o pensamento ou dos
que possuem capital para investir sobre os que não possuem e irão vender a
única coisa que possui, qual seja, sua força de trabalho. (ROCHA, 2015)
“[...]
A história de nossa civilização é acompanhada por modos de produção diferentes,
com estruturas próprias, mas com algo em comum: a
dominação da concepção sobre a execução, a exploração do trabalho de muitos e a
expropriação do produto desse trabalho por poucos. Assim, por
exemplo, na Idade Antiga –
escravos e senhores - , na Idade Média – vassalos e plebeus; nobres e príncipes -,
na Idade
Moderna – assalariados e proprietários (capitalismo) ou dirigentes burocratas e
trabalhadores (capitalismo de estado). (Modo de Produção – Karl Marx)
(ROCHA, 2015, p.75.)
OBS. SOCIEDADES SIMPLES:
nas Sociedades Simples, menos diferenciadas e menos complexas, esse tipo de
divisão entre Pensar e Agir, entre o Conceber e o Executar, entre o Ordenar e o
Cumprir, entre o Poder e a Servidão até foi observado, mas de forma menos
rigorosa. Se houve algum tipo de dominação, exploração, expropriação, nas
sociedades simples, se verificaram, de forma primária, entre algumas sociedades
tribais com algum grau de tecnologia produtiva, como nos grandes impérios Incas
E Maias por exemplo. (ROCHA, 2015)
OBS. II IMPORTANTE Se, de um lado, não se pode afirmar
que só existe diferenciação de poder entre pensar e agir nas sociedades
complexas, por outro lado, pode-se afirmar com segurança que o desenvolvimento
tecnocientífico necessariamente é obreiro da divisão social do trabalho, especialmente
aquela separação do poder entre quem pensa e quem executa.
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